quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Diáspora no Divã


Crónicando
A diáspora no Divã
“E sem dúvida o nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado para ele, não é senão a ilusão, mas o que é profano é a verdade. Melhor, o sagrado cresce a seus olhos à medida que decresce a verdade e que a ilusão aumenta, de modo que para ele o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.” (Feuerbach, prefácio à segunda edição de “A essência do cristianismo.”)
Antes de mais, sou da opinião que foi dada uma lição de cidadania e patriotismo, com uma participação considerável de centenas de guineenses, e o que aconteceu durante os três dias (27, 28, e 29 de Maio) marcam um ponto de partida de um diálogo “franco e aberto” entre um órgão de soberania e a sociedade civil local e estrangeira, dos filhos da Guiné. Tudo isso se passou durante a conferência: “ Os caminhos para a consolidação da Paz e Desenvolvimento”.

A diáspora guineense na Europa, corroborou pela evolução objetiva e positiva da sociedade guineense para próximo futuro, com pistas concretas, numa atitude dos homens em relação a submissão da sua consciência por um lado e, por outro procurou formas nas quais esta refundação da sociedade mais livre e justa se exprima de forma clara e verdadeira na BUSCA DA PAZ!
Posto isto, passo de seguida para uma pequena explicação da origem deste título:
Odete Semedo, a escritora guineense, esteve entre as centenas de figuras guineenses que se dispuseram a participar na conferência, e esteve desde primeiro dia no salão nobre da reitoria da Universidade «clássica» de Lisboa e nos dois últimos dias, na Faculdade de Direito, para acompanhar o evento.   
“Os guineenses têm que ser verdadeiros, mesmo que seja uma vez na vida… e com iniciativas destas, confirma-se que a celebre frase do primeiro Bispo de Bissau, não é uma quimera. Devemos e estamos a procura dos caminhos para lá chegar, e isso já é positivo…muitos falaram da criação duma Comissão da Verdade e Reconciliação, adaptado a nossa realidade, outros questionaram que tipo de justiça se deve aplicar, tendo em conta os vários episódios sangrentos da nossa realidade nos últimos anos…” carimbou Odete Semedo, que esteve 4 anos a viver na Diáspora (Brasil), para conclusão duma tese de Doutoramento, e está nos ultimos seis meses, de volta à Bissau.
No segundo dia da conferência registaram-se numa parte das sessões momentos de alguma comoção em que muitos choraram. Muitos dos participantes foram buscar casos de vida, para provar algumas atrocidades cometidas entre guineenses, com testemunhos feitos na primeira pessoa. Houve porém momentos de alegria e júbilo, improvisados pelos músicos Sido e Du Mainka. Sobre estes momentos em que emoção falou mais alto, na conversa com a Odete Semedo, nasce o título que narra esta crónica, porque puxou-se o fio da meada da conversa, quando ela rematou:
 “Sente-se alguma sinceridade em algumas palavras aqui proferidas, parece que a diáspora, aceitou sentar-se no divã, não só para manifestar às tristezas, os recalcamentos ou as frustrações, mas fundamentalmente têm estado à apresentar proposta extremamente valiosas e isso é prova de que existe ainda confiança nosso país, e esta diáspora aqui representada sentiu-se parte da solução dos males que ainda sobrevivem na nossa “Kasa Garandi” Guiné-Bissau…” que nos vedam os caminhos para o desenvolvimento, e a diáspora comprovou que não é uma parte dos problemas, estando disposta a exorcizar o medo e tentar acabar com mito das “perseguições” no seu sentido mais mesquinho.
“Parece que a diáspora está no Divã” contou Odete Semedo, e provavelmente tem razão porque na verdade este tipo de encontro tem um toque de criatividade construtiva, tendo em conta que preferiu caminhar com ideias fortes, que foram expostas no decorrer do evento, e o lamento que carateriza a autoflagelação sistemático que tem caraterizado o discurso pessimista guineense, foi posta de lado. Em nenhum momento ouvi aquela frase gasta “anôs guineense nô mau nan…” Bem-haja!
O renascimento da afamada cultura da Paz, que enriqueceu o vocabulário da sociedade guineense na última década, parece dar os primeiros passos num caminho que se quer pacifico. Outros hão, que continuam a matizar com impropérios, iniciativas desta natureza, justificando assim a falta de comparência, mesmo depois de se lhes ter confirmado que: «à Guiné-Bissau é que estava em jogo» com convite feito por telefone pelo embaixador guineense em Portugal, Fali Embaló.

Claro que não é aceitável a ausência de algumas figuras que para eles a cidadania é só criticar. “ Criticar é fácil, aliás é uma posição confortável, mas devemos sair dessa concha quando nos é solicitado, para pôr na prática um exercício simples de cidadania ativa, penso que devemos dar o nosso contributo e partilhar com os outros guineenses os nossos pontos de vista…” acentuou Odete Semedo.
Os três ex-primeiros-ministros guineenses que se encontram em Portugal, a saber: Francisco Fadul, Martinho Dafa Cabi e Aristides Gomes, têm a palavra… Segundo consta foram convidados, e não responderam ao convite.
 Porque será???
Li algures que a “liberdade é uma vontade meiga” a minha vontade foi de participar e colaborar. E respeito as vontades contrárias. Com o pouco que tenho, não escondi atrás de nenhum computador e amainei o medo que me faz cativo, da cobardia. E tenho consciência de que houve uma perda de qualidade evidente nos relacionamentos intra-guineenses, muitas das vezes promovido pelo nível de linguagens proferidas em alguns espaços virtuais, em que as condutas reveladas são de difícil regulação.

É também evidente que muitos ganham dinheiro em nome da Guiné, com promoções de espetáculos em que o lucro se destina apenas ao bolso de alguns. Veja bem leitor, e responda já agora, a esta pergunta se não participou por rebeldia na “Conferência Nacional para Paz” pelo simples fato de não querer dar a cara, e nem querer ajudar na busca da Paz, que no caso do Povo guineense parece uma agulha no “muntudu”.
 “ kê kun tem kontra bós”? Seria provavelmente uma pergunta simples se colocasse-mos a Guiné no Divã e não a Diáspora, como foi o caso…
Neste Blog os próximos post, serão marcadas pelas crónicas, entrevistas e uma versão concluída das linhas mestras das propostas apresentadas pelos guineenses que escolheram a Europa como segunda casa. Pois esteve em Lisboa e participaram no evento para além de lisboetas, representantes das associações guineenses em Coimbra, Porto e fora de Portugal vieram guineenses que vivem em Espanha, França, Inglaterra, Luxemburgo e Alemanha.
Outros houve, que enfrentaram milhares de quilómetros para cá chegar, outros houve também, que andaram centenas de quilómetros para dar o seu contributo valioso na conferência, e outros tantos porém com apenas algumas dezenas de quilómetros lhes separando, da Faculdade de Direito, preferiram fechar-se em conchas, e nem deram tabaco. Realmente criticar é fácil, mesmo!
Bem-haja!