segunda-feira, 1 de abril de 2013

Amílcar Cabral foi um homem prepotente


José Leitão da Graça

Amílcar Cabral foi um homem prepotente – José Leitão da Graça

Fonte: Expresso das Ilhas

O líder histórico da União do Povo das Ilhas de Cabo Verde (UPICV), José Leitão da Graça, diz-se um defensor da regionalização e autonomia política em Cabo Verde e considera que Amílcar Cabral foi um homem prepotente.

O dirigente histórico da UPICV fez estas declarações numa recente entrevista concedida à Inforpress, apesar do seu estado bastante debilitado, resultante de uma doença que o vem apoquentando desde há algum tempo a esta parte. Sem aquelas energias dos outros tempos, Leitão da Graça foi dizendo sobre o que pensa e escreveu no passado em relação à regionalização no arquipélago.

“A regionalização é uma coisa boa e, por isso, sempre fui a favor”, disse, lamentando que até ao momento este facto não tenha ainda acontecido em Cabo Verde. Na sua opinião, o PAIGC (hoje PAICV) sempre teve medo da regionalização. Hoje, gaba-se de ter escrito, em panfletos, apelando à autonomia das ilhas.
Para leitão da Graça, com a regionalização não significa que a unidade do país possa estar em causa. “Do meu ponto de vista, a regionalização não significa independência para cada uma ilha fazer o que quer, porque, caso contrário, Cabo Verde desaparece como povo”, sublinhou, acrescentando que um sistema federal, do tipo norte-americano, não adequaria ao arquipélago, já que, segundo ele, o país, pela sua pequenez, “precisa de pensar em parcerias internas e com os cabo-verdianos na diáspora para se desenvolver”.

Recorda de alguns documentos por ele produzidos, no passado, em que defendia a regionalização “para acabar com esta história de ‘badiu’ (natural de Santiago) e ‘sampadjudu’ (nascidos nas outras ilhas) que, apesar de escamoteada ali e acolá, mas existe”.

Este problema (regionalização) não perdeu actualidade”, indicou Leitão da Graça, um político que diz conhecer de perto Amílcar Cabral (pai das independências da Guiné e Cabo Verde), de quem discordou sempre sobre a questão da unidade entre os dois países. Se regressasse ao passado, voltaria a lutar contra a unidade Guiné/Cabo Verde, porque, na sua perspectiva, Cabral não respeitava a “personalidade colectiva do povo cabo-verdiano”.

“A unidade trouxe grandes males tanto para a Guiné, como para Cabo Verde”, lamentou José Leitão da Graça, para quem nesse aspecto, “Cabral, que era um homem inteligente, falhou na questão da unidade entre duas nações com realidades diferentes”. Não obstante a UPICV ser hoje um partido inactivo, o seu fundador ainda acredita nos ideais que levaram à sua criação e, por isso, defende que o que ainda não foi concretizado “vai ser retomado e adequado ao tempo presente”.

Sobre a União Africana (UA) e a Comunidade Económica de Países da África Ocidental (CEDEAO) é de opinião que estas duas organizações, “com algumas correcções, são necessárias ao continente”.

“Convém é dinamizar isso com novas filosofias”, advogou, a propósito das duas organizações africanas que, em seu entender, “devem ser revitalizadas com base nos princípios do marxismo/ leninismo”.

Viveu e trabalhou como locutor da Rádio no Gana, ao tempo em que Kwame Nkrumah era Presidente, o que lhe permitiu conhecer muito bem as relações que ligavam este Chefe de Estado ao Amílcar Cabral.

“Em princípio, Nkrumah tinha um certo afastamento em relação ao Amílcar por causa das relações deste último com o Sékou Touré, o que era normal, tendo em conta que a Guiné Conacri e a Guiné-Bissau são territórios vizinhos”, frisou, adiantando que só depois o Nkrumah entendeu que Cabral tinha razão por causa das proximidades entre os dois países que têm fronteiras comuns.

No entanto, segundo Leitão da Graça, Amílcar Cabral teve um “apoio decisivo” do 
Gana nas Nações Unidas. “Naquela altura, Sékou Touré era considerado um pouco megalómano e isto prejudicou Amílcar e a sua luta na Guiné-Bissau”, lembrou o fundador da UPICV que não hesita em caracterizar Cabral como “homem prepotente”.
“Eu tive a oportunidade de lhe dizer isso pela forma como me tratou”, notou, referindo-se à prepotência do fundador das nacionalidades da Guiné e Cabo Verde que, na sua opinião, “não aceitava divergências nem dentro do seu partido e nem fora dele”.

Na óptica deste veterano político, Amílcar Cabral estava a conduzir uma luta armada “fecunda” na Guiné-Bissau, o que o levou a tornar-se num “senhor Todo-o-poderoso, mandando, inclusive, fuzilar muita gente por dá cá toma aquela palha”. Para ele, a abertura política em 1991 foi uma “coisa muito boa” e que permitiu ao país “sair de uma ditadura”.

“Podiam fazer isto mais cedo do que em outras paragens africanas, mas não o fizeram porque estavam comprometidos com um passado sujo”, observou, a respeito da abertura do país ao mulpartidarismo. Apesar de estarem criadas as condições para o surgimento de outras forças políticas, a UPICV não conseguiu singrar, pelo que é hoje um partido apenas de nome.

No entanto, José Leitão da Graça não descarta a hipótese de trazer este partido à ribalta, porque, conforme deixou transparecer, “ainda existem pessoas que não são fiéis nem ao PAICV (Partido Africano da Independência de Cabo Verde) nem ao MpD (Movimento para a Democracia) ”.

Recordou que as suas ideias progressistas obrigaram-no a viver na clandestinidade em Portugal e, depois da independência do arquipélago, em 1975, devido a divergências com o PAIGC, então partido no poder, teve de asilar em terras lusas. Em 1986, regressou à terra que o viu nascer, mas não admite que se tratou de uma reconciliação com a história, já que continuou fiél aos princípios que sempre defendeu.

Se continuasse aqui, seria preso, à semelhança do que aconteceu com muita gente que foi levada para o Campo de Concentração do Tarrafal”, afirmou Leitão da Graça.
José André Leitão da Graça nasceu a 30 de Novembro de 1931, na Cidade da Praia. Fez os estudos secundários no Mindelo (S. Vicente) e, mais tarde, seguiu para Portugal onde iniciou licenciatura em Direito. No entanto, ficou pelo terceiro ano do curso, pois o pai, um defensor do regime do Salazar, cortou-lhe as mesadas, por se ter enveredado pelo caminho da política e defendido os ideais da independência. Assim, só depois da independência de Cabo Verde pôde concluir a formação.

Ordidjanotando
Domingos Simões Pereira e Braima Camara 

Ainda não é desta...

Algum tempo para cá, não fazia comentário político neste espaço, ou melhor, não opinava sobre questões políticas, sobretudo cenas bizarras que foram acontecendo na Guiné-Bissau. Soube bem esse silêncio voluntário. Mas hoje, domingo de Páscoa de 2013, apeteceu-me opinar. Não sei a que horas terminarei este artigo, sabendo que às 8h 30m desta segunda-feira 1 de abril, terei que ir assistir a maior cena ingratidão desde que cheguei ao Brasil. Mas sobre isso, que nada tem a ver com o dia das mentiras, falarei(escreverei) talvez um dia.

O input desta vez, que deu para quebrar o gelo do silêncio, foi este post, tirado do artigo publicado no jornal cabo-verdiano, Expresso das Ilhas. Primeiro fui buscar o significado da palavra “prepotente” nos wikis que hoje são apelidados de “pai dos burros”, dizem: Etm. praepotens.antisQue gosta de oprimir, aquele que abusa do poder ou muito poderoso; influente. É também considerado aquele que demonstra ou expressa prepotência; tirano; ou possui excesso de poder; absolutista; faz uso desse poder de modo autoritário; opressor; autocrático.

Embora não seja o primeiro a ter essa impressão sobre Amílcar Cabral, líder das nacionalidades guineense e cabo-verdiano(a), denota-se pela frase “Eu tive a oportunidade de lhe dizer isso pela forma como me tratou” que José Leitão da Graça, foi destratado e deve-se provavelmente a leviandade de “pensar pela sua própria cabeça” e ter opinião diferente do Amílcar Cabral.

A pergunta que merece ser colocada: como vai ser tratado esse senhor octogenário, pelos seguidores e discípulos ferrenhos do AC?

Se a forma violenta por vezes de reagir dos discípulos não será surpresa para ninguém, a grande incógnita do momento é em relação ao partido PAIGC, criado pelo Amílcar Cabral. Um partido que continua a dominar a cena política da Guiné-Bissau, que com descaso continua a semear, sem colher frutos, os sonhos inacabados do líder fundador, mas fundamentalmente, um partido que continua desnorteado, e facilmente recorre às técnicas da prepotência, que inclui eliminação física, chacina de caráter e violência política para impor a sua filosofia ou ideologia.

Sem qualquer exame de laboratório, cada vez mais, sabe-se, que o DNA desse modelo de intervenção tem dono, quando se tem a coragem de raspar o verniz da propaganda e das fabulas da luta heroica sem macula. Que sina infeliz é essa que parece perseguir sem descanso o PAIGC.

Órfão de ideólogos adaptados a democracia, empobrecido, por ter poucas pessoas com visão, carisma, lucidez e corajem, estamos há sensivelmente um mês (tendo em conta as datas 8 à 12 de Maio) do VIII Congresso do Partido. Como tem sido de praxe nos últimos anos, existem vários candidatos a liderança, e dois deles são os mais destacados para a sucessão do “derrubado” Carlos Gomes Jr.

Domingos Simões Pereira e Braima Camara, são duas figuras que a priori deixam muito a desejar, tendo ambos, assuntos do qual se cogitam a desviar, com receio de ao abordarem sejam infelizes ou incapazes de se justificarem, no caso do primeiro (entenda-se DSP) tem haver com a sua prestação enquanto Secretário Executivo, com relação ao golpe de Estado de 12 de abril, onde as atitudes e manifestações assumidas, foram considerados por muitos como antipatriótico, por ter-se aliado de forma cega e apática as decisões dos senhores da CPLP (Portas e Chicote) e o segundo(entenda-se BC) com um passado de desventuras, indicado por muitos como colecionador de alguns crimes, que lhe valeram até, uma passagem por um presídio em Portugal nos anos 90. 

Como a nossa sociedade fingi em não reparar nos males e sobre o mesmo fato surgem sempre duas visões opostas, na minha opinião, alienação é falta grave, omissão é o mal que alimenta a impunidade. Mas a verdade é que vivemos num mundo imperfeito. E a dura verdade que vem a tona a cada novo instante que se quer olhar para o futuro (defendido pelos dois) do Partido, é uma, ainda não é desta.
Helmer Araújo

Feliz Páscoa a todos...
Fui