quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A juventude consciente e organizada modifica a essência de uma Nação

Luís Barbosa Vicente* 
Tendo em conta a importância da juventude no processo de desenvolvimento e maturidade política e democrática de um país, interessa a sua auscultação com intuito de entender melhor o que pensa sobre o seu futuro para que se possa construir um novo referencial de sociedade guineense. Para isso, é importante a identificação do jovem como sujeito participativo do processo político tendo em conta o seu papel na transformação de uma sociedade, pois é na diversidade da juventude que reside a enorme riqueza de um País.

Quem gere os destinos de um País compete criar um ambiente favorável para o desenvolvimento pleno dos jovens. Isto para dizer que é importante uma abordagem marcadamente diferente do passado que se colocava a grande maioria dos jovens no mesmo plano. Hoje existem jovens com problemas específicos e sensibilidades particulares e não é possível, e ainda bem, tratá-los de forma tão abrangente e massificada.

O facto de existirem jovens com problemas, sensibilidades, vontades e tendências distintas enriquece e muito um país. É por isso que o trabalho de quem tem responsabilidades governamentais é muito mais exigente, interpretando essa necessidade não como uma dificuldade ou adversidade, mas um enorme desafio para que se possa criar condições para que no futuro os jovens tenham uma prestação que seja adequada às exigências da atualidade.

Em boa verdade, não tenho intenções de “formatar convicções”, nem “persuadir consciências”, mas criar um ambiente necessário para que possam ser eles próprios, porque na verdade não se pode impor um conteúdo, paradigma ou filosofia de vida, mas, criar condições para que cada jovem seja o que pretende no contexto em que se encontra o País, e em que vivem, pelo que é importante que os mesmos se envolvam diretamente nas discussões de políticas públicas, cidadania, associativismo e na partilha de experiências com outras congéneres africanas, europeias, asiáticas, etc.

Não tenho dúvidas de que os jovens guineenses devem experimentar novas vivências e realizações, porque a participação e envolvimento no tecido associativo é uma interessante forma de cumprir a educação não formal e um contributo importante para a realização do quotidiano. O associativismo é fundamental na formação do Estado, na construção da democracia e na resolução dos problemas sociais, tal como nos diz Alexis Tocqueville (1977) na sua obra: “A Democracia na América”.

É dessa forma que pretendo partilhar alguns aspetos que devem ser tidas em conta na definição de uma política pública para a juventude e, também, no campo do associativismo, como ferramenta de participação dos jovens em termos do exercício da cidadania ativa, responsável e organizada.
No entanto, e antes de mais, convém salientar que as políticas públicas são vistas como forma de políticas implementadas pelo Estado que pretendem proporcionar o consenso social, através de iniciativas que contribuam para a redução de desigualdades e controlo das esferas da vida pública e garantir os direitos dos cidadãos.

É preciso compreender que as políticas públicas, enquanto um conjunto de ações, são coordenadas com o objetivo público. Entendê-la enquanto a expressão das relações entre o Estado e a Sociedade é compreendê-la como algo em construção e em permanente disputa entre os atores sociais que os fazem e consequentemente os constroem. Compreender esta mutabilidade é fundamental para entrar no mundo das Políticas Públicas para a juventude.

Esta é uma política em construção, nomeadamente no caso da Guiné-Bissau e, portanto, temos que superar este consenso superficial que a tem pautado. Estamos a falar de um projeto de nação, da construção do futuro e, desta forma, da necessidade de estar articulado com um conceito de desenvolvimento que aprofunda a democracia e encara os jovens enquanto cidadãos capazes e detentores de direitos, logo, protagonistas dos seus próprios sonhos.

Na verdade, uma política pública deve discutir as questões da raça, etnias, crenças, géneros, classe social, etc…, e não se restringir a discutir apenas a forma mas ir muito mais além, construindo socialmente o seu conteúdo e conceito estratégico de sociedade. Aqui reside o papel fundamental do associativismo.

Como é sabido, o associativismo assenta em dois pilares: o pilar das redes e cooperação social e o pilar da confiança social. Estes dois pilares têm implicações em áreas muito multifacetadas como a integração social, a consciência cívica, a economia, entre outras.
A nível micro as associações desenvolvem um conjunto de redes sociais que possibilitam, aos indivíduos, atingir os seus objetivos. A nível macro estas entidades da sociedade civil dispõem de um conjunto de valências e de iniciativas que têm como finalidade o combate à exclusão social das populações pertencentes a meios socioeconómicos mais desfavorecidos.

Nos últimos tempos, temos observado o aumento do número de iniciativas que são resultados de uma cooperação entre a sociedade e os jovens, que permitiu demonstrar o forte impacto que o trabalho desenvolvido pelas associações de jovens representam no plano social e económico da comunidade guineense no País e na Diáspora. É verdade que nas melhores iniciativas, muitas vezes há experiências de sucessos, tanto no território nacional, como na diáspora. A título de exemplo, refiro alguns projetos, nomeadamente “Projeto Tchintchor – Promover a Guiné-Bissau Positiva”; “Projeto Musqueba - Agriculture School For Women”; “Movimento Ação Cidadã”, entre outros, pelo que devem ser absorvidas como Políticas Públicas com impactos na transformação da sociedade guineense.

No entanto, estas políticas públicas só surtem efeitos esperados quando é tida em conta a opinião do seu público-alvo, ou seja, os sujeitos para os quais o benefício será propiciado, neste caso a juventude guineense. Mas, é preciso que sejam políticas públicas proactivas e não reativas, pois na maioria dos casos, a juventude só se torna objeto de uma quando associada a modelos negativos, como a delinquência, a violência, o roubo, etc…No caso da Guiné-Bissau é latente e urge ter em conta no sentido de alterar a essência que carateriza este conceito.

Assim, a forma mais viável de garantir isso é através da participação dos jovens na gestão destes processos, discutindo as problemáticas para o alcance das potencialidades que tal mecanismo pode gerar ao corpo da categoria social, pois, neste sentido, o que o jovem precisa é de políticas que lhe assegure uma escola acessível e de qualidade, formação profissional adequada, oportunidades dignas de trabalho, etc…, ou seja, necessita de apoio, atenção e perspetivas de auto realização, mais ainda, precisa automaticamente da atenção do Estado.

Por isso, a ausência de políticas públicas específicas para esta faixa da população é um grave problema, pois mais do que nunca, os jovens guineenses mostram-se vulneráveis a questões atrás referidas, que vêm somar-se às mazelas resultantes da falta de investimentos na educação e em programas específicos de capacitação profissional.
Não alterar os pressupostos de atuação de uma política pública séria e responsável para os jovens, teremos resultados como as que assistimos, presentemente, através de manifestações de descontentamentos e de revolta, pois a legitimidade acaba por ser garantida pela dificuldade em se fazerem ouvir.

É possível sim uma mudança desta realidade através de políticas públicas para a juventude no âmbito da educação e formação profissional, pois acredito que poderão garantir um futuro promissor para esta juventude que ambiciona resultados positivos no campo socioeconómico, o que também vem contribuir para o desenvolvimento do país, diminui a taxa de analfabetismo e incentiva, cada vez mais, a inclusão dos jovens no ensino superior, o que leva a garantir saltos positivos no IDS - Índice de Desenvolvimento Humano - entre outros que elevam e qualificam a estrutura de uma Nação.

Concluo salientando que as políticas públicas para a juventude, no nosso país, ainda precisam ser trabalhadas num campo mais profundo, no sentido de garantir os direitos relativos a esta camada da sociedade que precisa de investimento na sua educação e segurança para o futuro promissor, pois encontra-se na juventude o futuro da Guiné-Bissau. É hora de entendermos que somos apenas os capitães do nosso próprio sucesso e engenheiros responsáveis pela construção da nova estrutura nacional dos nossos sonhos.

O país que não cuida dos seus jovens não encontra o seu sucesso, pois a juventude é mudança, energia e criação! LV

Nota: O presente artigo integra um ensaio geral sobre as políticas públicas Guiné-Bissau 2020.


Lisboa, 01/10/2013
*Expert Consult Project Investment